Encantos Sonoros: Descobrindo os Benefícios da Música na Terapia do Alzheimer

Meu avô sempre foi um homem cheio de histórias. Ele adorava contar sobre sua juventude, os bailes que frequentava e como a música sempre esteve presente na sua vida. Mas, com o tempo, essas histórias começaram a se perder. O Alzheimer foi apagando pouco a pouco suas lembranças, e, para nós, familiares, foi doloroso vê-lo esquecer momentos que antes eram tão importantes para ele.

O que eu não esperava era que, em meio a tantas perdas, a música se tornaria um elo poderoso entre nós. Descobri que, mesmo quando as palavras falhavam e os rostos ficavam menos familiares, uma melodia podia trazer meu avô de volta nem que fosse por alguns minutos. E não foi só com ele. Nos encontros com seus amigos na casa de repouso, percebi que a música tinha um efeito quase mágico em todos.

Foi assim que comecei a entender o poder dos encantos sonoros e como a música pode ser uma terapia essencial para quem vive com Alzheimer.

Meu Avô e a Perda das Memórias: O Impacto do Alzheimer

Ver meu avô esquecendo os nomes dos netos e até mesmo o da minha avó foi um dos momentos mais difíceis da nossa vida. No começo, eram pequenos lapsos: ele esquecia onde tinha colocado os óculos ou repetia a mesma pergunta várias vezes. Mas, com o tempo, ele deixou de reconhecer nossa casa e começou a confundir o presente com o passado.

Nos momentos de lucidez, ele próprio percebia que algo estava errado e isso o entristecia. Para nós, família, a sensação era de impotência. A doença estava roubando dele (e de nós) a sua própria história. Foi aí que resolvi tentar algo diferente.

Como a Música Reacendeu Memórias

Certo dia, levei para ele uma playlist com músicas que sempre tocavam nos almoços de domingo, aquelas que ele costumava cantarolar enquanto preparava o café. Toquei a primeira canção e, para minha surpresa, vi seu rosto se iluminar. Ele fechou os olhos, sorriu e, num instante, começou a murmurar a melodia.

Aquele momento me arrepiou. Meu avô, que há dias estava em silêncio, de repente começou a cantarolar e até a bater o pé no ritmo da música. Foi como se ele estivesse, por um instante, voltando a ser quem sempre foi.

Depois desse dia, a música virou parte da nossa rotina. Descobrimos que ela ajudava a acalmá-lo quando ele estava ansioso, além de trazer um brilho especial aos seus olhos.

Os Benefícios da Música no Alzheimer: O Que Aprendi com Ele e Seus Amigos

Conforme fui incluindo mais músicas na rotina do meu avô, percebi que não era só ele que se beneficiava. Sempre que íamos ao lar onde ele morava, a música despertava algo nos outros idosos também. Vi amigos dele, que raramente falavam, começarem a cantar. Vi pessoas que passavam os dias olhando para o nada começarem a sorrir quando ouviam um velho tango ou uma canção sertaneja.

Aqui estão alguns dos benefícios que presenciei de perto:

🎵 Estímulo da memória – As músicas que marcaram a vida de meu avô trouxeram de volta lembranças que ele já não conseguia acessar de outra forma.

🎵 Redução da ansiedade e agitação – Canções mais suaves ajudavam a acalmá-lo, especialmente nos dias em que ele estava mais inquieto.

🎵 Melhoria na comunicação – Às vezes, ele não lembrava de palavras, mas conseguia cantar trechos inteiros de músicas antigas.

🎵 Aumento do engajamento social – As sessões musicais uniam os idosos, que se animavam ao cantar juntos e compartilhavam lembranças.

Como a Música Pode Fazer Parte da Rotina

Depois de tantos momentos incríveis, comecei a me perguntar: como podemos usar a música para ajudar outras pessoas com Alzheimer? A resposta é simples e pode ser aplicada por qualquer um. Aqui estão algumas coisas que fiz com meu avô e seus amigos:

Criação de playlists personalizadas – Descobrimos quais músicas marcaram sua vida e criamos uma lista especial para ele. Algumas favoritas eram as que tocavam nos bailes de sua juventude.

Uso da música em momentos estratégicos – Quando ele estava agitado ou ansioso, colocávamos músicas suaves. Nos dias em que ele estava desanimado, músicas mais animadas ajudavam a dar energia.

Estimulação através do ritmo – Mesmo quando ele não conseguia mais falar, batia as mãos e os pés no ritmo da canção.

Sessões musicais em grupo – Quando levávamos um pequeno rádio para a casa de repouso, percebíamos como a música criava uma conexão entre todos. Era lindo ver como a memória musical se mantinha viva em cada um deles.

Histórias Que Me Marcaram

Além do meu avô, outras histórias me emocionaram. Uma delas foi a do Sr. João, um amigo dele que raramente falava e sempre parecia distante. Mas, quando tocávamos uma velha canção de samba, ele começava a cantar com uma alegria contagiante.

Ou a Dona Lúcia, que quase não se lembrava da família, mas, ao ouvir uma música que dançou em seu casamento, se emocionou e disse, entre lágrimas: “Essa foi a nossa música…”

Esses momentos me mostraram que, mesmo quando a doença avança, a música continua sendo um refúgio para a alma.

Dicas para Quem Tem um Familiar com Alzheimer

Se você tem um familiar ou conhece alguém que enfrenta o Alzheimer, eu realmente recomendo tentar incluir a música na rotina dele. Aqui estão algumas dicas que aprendi ao longo do tempo:

🎶 Experimente diferentes estilos – Algumas pessoas reagem melhor a músicas animadas, outras a músicas mais suaves.

🎶 Preste atenção às reações – Se uma música deixa a pessoa mais tranquila ou feliz, toque-a mais vezes. Se ela parecer angustiada, troque a canção.

🎶 Mantenha um volume confortável – Sons muito altos podem incomodar.

🎶 Use fones de ouvido se necessário – Isso pode ajudar a reduzir distrações e aumentar a imersão na experiência musical.

🎶 Cante junto – Mesmo que a pessoa não consiga acompanhar, sua presença e entusiasmo fazem toda a diferença.

O Poder da Música na Vida de Quem Amamos

A jornada do Alzheimer é difícil, tanto para quem enfrenta a doença quanto para quem cuida de um ente querido. Mas aprendi que a música pode ser um dos maiores presentes que podemos oferecer.

Ela não apaga a doença, não impede a progressão do esquecimento, mas traz momentos de lucidez, alegria e conexão. No fim das contas, são esses momentos que fazem toda a diferença.

Se você tem um avô, uma avó ou qualquer pessoa querida passando por isso, experimente colocar uma música. Você pode se surpreender com a resposta que virá.

E, se já teve alguma experiência parecida, me conta nos comentários. Vou adorar saber como a música tocou a vida de quem você ama!

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