Playlist para Pintura: Músicas que Inspiram Idosos com Alzheimer a Criar Arte

A arte e a música sempre caminharam juntas ao longo da história, e eu nunca senti isso tão forte quanto nos momentos que vivi com meu avô. Ele foi diagnosticado com Alzheimer, e aos poucos, fui percebendo que a comunicação verbal se tornava mais desafiadora. Mas, para minha surpresa, a música e a pintura abriram caminhos que as palavras não conseguiam mais trilhar.

Desde pequeno, sempre associei meu avô às canções antigas que ele cantarolava enquanto consertava algo ou preparava o café. Depois do diagnóstico, resolvi testar algo diferente: montei uma playlist com as músicas que ele gostava e coloquei para tocar enquanto o incentivava a pintar. O que aconteceu depois foi incrível. Ele, que muitas vezes ficava alheio ao que acontecia ao redor, de repente sorriu ao ouvir um samba que tanto amava. Seus olhos brilharam e, sem que eu precisasse dizer nada, ele pegou o pincel e começou a desenhar.

Aquela experiência me fez entender o poder da música. Enquanto ele pintava, percebi que a melodia despertava algo dentro dele. Às vezes, ele cantarolava um trecho, outras vezes ficava concentrado, como se estivesse resgatando memórias que pareciam perdidas. E, de alguma forma, cada pincelada era um reflexo dessas lembranças.

Como a Música Reacendeu Memórias no Meu Avô

A neurociência explica que a música ativa áreas do cérebro ligadas à emoção e à memória, mas viver isso de perto foi uma experiência indescritível. Sempre que colocávamos para tocar alguma música de sua juventude, ele reagia. Eu percebia que ele ficava mais calmo, atento e, em alguns momentos, até emocionado.

A música ajudava a reduzir sua ansiedade e trazia um pouco de leveza para os dias mais difíceis. Em muitas ocasiões, a melodia o guiava na escolha das cores, no ritmo dos traços, como se a pintura fosse uma forma de traduzir o que ele sentia e não conseguia expressar.

A Arte Como Um Canal de Expressão

Ver meu avô segurando um pincel, concentrado na tela, foi uma das imagens mais bonitas que pude guardar. Era como se, naquele momento, ele estivesse totalmente presente, sem pressão, sem cobrança, apenas deixando a criatividade fluir.

A pintura trouxe para ele algo que a doença parecia estar tirando: autonomia. Não importava se os traços eram precisos ou se as cores combinavam. O que valia era a experiência, o prazer de criar algo, de se conectar com o momento presente.

No início, escolhi tintas aquarela por serem mais fáceis de manusear. Também ofereci pincéis com cabos mais grossos para que ele pudesse segurar melhor. Percebi que ele gostava de usar os dedos para espalhar a tinta pela tela, e isso tornava tudo ainda mais divertido e espontâneo.

Criando um Ambiente Aconchegante

Com o tempo, fui aprendendo pequenos truques para deixar esse momento ainda mais especial. Ajustei a iluminação do ambiente para que ficasse mais confortável, escolhi tintas de fácil aplicação e preparei espaços onde ele pudesse pintar sem preocupação com bagunça. Também percebi que músicas instrumentais ou com melodias suaves ajudavam a manter a concentração e criavam um clima tranquilo.

Uma das melhores sensações era ver a expressão de satisfação no rosto dele ao terminar uma pintura. Ele nem sempre lembrava do que tinha feito no dia seguinte, mas, naquele instante, havia alegria, orgulho e conexão.

A Importância de Respeitar o Ritmo

Se tem algo que aprendi é que não há regras quando se trata de arte e Alzheimer. Cada dia era diferente. Algumas vezes, ele passava horas pintando, em outras, ficava alguns minutos e depois perdia o interesse. O mais importante era respeitar seu ritmo e garantir que aquele fosse um momento de prazer, sem cobranças.

Uma Playlist Especial Para Inspirar a Arte

Ao longo dessa jornada, fui testando diferentes músicas e montei uma playlist que funcionava muito bem para o meu avô. Aqui estão algumas das favoritas dele:

🎵 Clássicos Instrumentais:

Claude Debussy – Clair de Lune

Ludovico Einaudi – Nuvole Bianche

Johann Sebastian Bach – Air on the G String

🎤 Músicas Nostálgicas (Anos 50, 60 e 70):

Frank Sinatra – Fly Me to the Moon

Elis Regina – Águas de Março

Roberto Carlos – Detalhes

🌿 Sons da Natureza:

Som de ondas do mar

Canto dos pássaros

Chuva leve

🎷 Jazz e Bossa Nova:

Tom Jobim – Garota de Ipanema

Louis Armstrong – What a Wonderful World

João Gilberto – Chega de Saudade

Criar essa playlist e deixá-la tocando enquanto ele pintava fez toda a diferença. Percebi que algumas músicas o animavam, enquanto outras traziam um ar mais reflexivo, e era lindo ver como isso se refletia na arte que ele produzia.

O Legado Que a Arte e a Música Me Deixaram

Essa experiência me ensinou que, mesmo quando as palavras começam a falhar, a essência da pessoa ainda está lá, esperando ser despertada. A música e a arte foram os instrumentos que me permitiram me conectar com meu avô de uma forma que nunca imaginei. E, mais do que isso, foram elas que proporcionaram a ele momentos de felicidade, mesmo em meio aos desafios da doença.

Se você tem um ente querido com Alzheimer, experimente essa abordagem. Coloque uma música especial, ofereça tintas e pincéis, e simplesmente observe. Cada pincelada pode ser um resgate emocional, um instante de alegria e um lembrete de que, independentemente da doença, a beleza da vida ainda pode ser vivida e compartilhada.

🎵🎨 Porque a arte e a música transcendem barreiras e tocam o coração. Permita que elas façam parte dessa jornada.

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