
Sempre ouvi falar sobre o poder da música e da jardinagem na vida das pessoas, mas nunca imaginei que essas duas atividades pudessem ter um impacto tão profundo até vivenciar isso com meu avô. Ele foi diagnosticado com Alzheimer há alguns anos, e, aos poucos, vi sua memória se esvaindo, seu humor mudando e sua independência se tornando limitada. No entanto, uma coisa permaneceu: sua conexão com a música.
Lembro-me de quando ele costumava assobiar enquanto cuidava do jardim. Meu avô sempre teve um amor especial por plantas, e a jardinagem era seu refúgio. Quando a doença começou a avançar, ele foi perdendo a iniciativa para realizar tarefas simples, e o jardim que antes era seu orgulho passou a ser apenas um espaço esquecido no quintal. Eu queria encontrar uma forma de trazê-lo de volta para esse universo que sempre lhe trouxe tanta alegria, e foi aí que tive a ideia de combinar música e jardinagem.
A Música e a Memória do Meu Avô
A primeira vez que coloquei sua música favorita para tocar enquanto estávamos no jardim foi um momento mágico. Era uma velha canção que ele sempre cantava quando eu era criança. No início, ele ficou quieto, apenas ouvindo, mas logo vi seus olhos brilharem e seus lábios começarem a formar as palavras da melodia. Ele não conseguia lembrar do que havia almoçado naquele dia, mas lembrava perfeitamente da letra daquela música.
Foi nesse instante que percebi que a música tinha um efeito especial sobre ele. Ele se tornou mais participativo, começou a cantar junto e até bateu palmas no ritmo da melodia. A música ativou algo dentro dele, algo que a doença não conseguiu apagar completamente. Era como se, por alguns instantes, o Alzheimer não estivesse ali.
A Jardinagem Como Conexão com o Presente
Depois dessa experiência, comecei a usar a música como um facilitador para envolvê-lo novamente na jardinagem. Ao som de suas canções preferidas, propus atividades simples: segurar uma pá, tocar a terra, sentir o cheiro das folhas. Mesmo que ele não lembrasse como plantar uma muda, eu percebia que o simples contato com a natureza trazia um efeito calmante.
Ele se sentia mais presente, mais sereno. O estresse e a agitação que às vezes tomavam conta dele diminuíam, e ele passava a sorrir mais. Eu sabia que ele não estava apenas mexendo na terra, ele estava revivendo memórias, reencontrando um pedaço de si mesmo.
A Magia da Combinação entre Música e Jardinagem
Com o tempo, criar essa rotina se tornou uma parte essencial dos nossos dias. Eu descobri que músicas diferentes influenciavam o jeito como ele interagia com as plantas. Canções suaves e instrumentais deixavam o ambiente mais tranquilo e propício para o plantio e a rega. Já músicas mais animadas, como sambas antigos, traziam uma energia contagiante, e ele se movimentava mais, mexendo as mãos e até dançando um pouco enquanto cuidávamos das flores.
A combinação dessas duas atividades se mostrou extremamente benéfica para ele. A música resgatava memórias e emoções, enquanto a jardinagem o mantinha fisicamente ativo e engajado no momento presente. Era uma terapia natural, sem efeitos colaterais, apenas com benefícios.
Dicas que Funcionaram para Nós
Se você tem um familiar com Alzheimer, eu recomendo experimentar essa abordagem. Algumas coisas que aprendi nesse processo podem te ajudar:
🎵 Escolha músicas significativas: Descubra quais músicas marcaram a vida da pessoa. Pergunte a familiares ou tente tocar diferentes estilos para ver quais despertam reações positivas.
🌿 Comece com atividades simples: Não precisa ser um jardim grande. Apenas tocar a terra, regar plantas ou organizar pequenos vasos já é suficiente para trazer benefícios.
🔊 Use dispositivos fáceis de manusear: Caixas de som Bluetooth ou playlists prontas ajudam a tornar a experiência mais prática.
🕒 Crie uma rotina: Momentos previsíveis trazem conforto para quem tem Alzheimer. Escolher um horário fixo pode ajudar a tornar a atividade um hábito prazeroso.
👀 Observe as reações: Cada pessoa responde de forma diferente. Se perceber que a música ou a atividade não estão trazendo conforto, adapte a experiência.
O Legado Dessa Experiência
Infelizmente, o Alzheimer é uma doença degenerativa, mas o que aprendi com meu avô me mostrou que, mesmo diante dessa doença, ainda há maneiras de criar momentos de alegria e conexão. Não importa o que a memória dele apagou, pois o sorriso no rosto dele quando ouvia sua música favorita ou segurava uma flor falava mais do que qualquer lembrança.
A música e a jardinagem não curam o Alzheimer, mas nos deram pequenos instantes de felicidade genuína. E, no fim das contas, são esses momentos que realmente importam.